-=ARTIGO=- Dom Anuar Battisti (Bullying)


Hoje escrevo sobre bullying, essa maneira de manifestar a violência em nossa sociedade que tem causado efeitos drásticos em ambientes como escolas, empresas e outros grupos de convivência. Como evangelizadores também temos que estar atentos a isso.

Reporto aqui alguns elementos que talvez possam iluminar esta questão, oferecendo algumas pistas de comportamento em vista da compreensão e das reações diante deste fenômeno.

Luciene Regina Paulino Tognetta, doutora em Psicologia Escolar pela USP, em recente entrevista à Agência de notícias católica ZENIT, define assim este fenômeno: "O bullying é diferente de uma simples brincadeira entre alunos, pois o que o caracteriza é a intencionalidade do autor em causar um sofrimento à vítima. As agressões se repetem sempre com o mesmo alvo, acontecem por um longo período de tempo e há um desequilíbrio de poder, tornando possível a intimidação da vítima.

Portanto, há uma violência sentida por quem é vitimizado e, sobretudo, essa violência acontece cotidianamente fazendo a vida dessa criança ou adolescente parecer um inferno a seus olhos. O que torna o bullying algo tão terrível é o fato de ser uma forma de violência repetida e entre pares, ou seja, entre sujeitos que estão em pesos de autoridade iguais. E é na escola que essa relação entre pares é intensificada."

Questionada sobre quais os principais meios para se evitar o bullying, a pesquisadora responde: " Primeiramente, os educadores precisam compreender as particularidades desse tipo de violência para depois pensar em propostas de intervenção. De acordo com estudos e pesquisas realizadas na área de Psicologia Moral, o autor de bullying é um sujeito que possui uma escala de valores invertida, em que respeito, generosidade, solidariedade não são valores centrais para esses meninos.

Por isso, é importante destacar que eles também precisam de ajuda, pois são sujeitos que carecem do que chamamos de ‘sensibilidade moral’, ou seja, não enxergam no outro um sujeito digno de respeito e por isso não conseguem se sensibilizar com a dor alheia.

Ao contrário do que as escolas têm feito quando identificam os autores, que é aplicar castigos ou punições, o que podemos fazer é aplicar sanções por reciprocidade, que estejam relacionadas com as ações do sujeito; encorajá-los a pedir desculpas e incentivá-los a reparar o mal causado ao outro, para que possam refletir sobre o que fizeram. Por sua vez, os alvos de bullying não têm forças para lutar contra seus algozes porque se veem como diferentes; é preciso ajudá-los a se ver com valor, a se respeitarem para que possam sair do "estado" de vítima.

Mas a escola precisa trabalhar também com os espectadores, como já dissemos, são eles que promovem o autor; portanto, precisamos trabalhar com os sentimentos desses sujeitos que não conseguem se indignar; precisamos questioná-los: como vocês se sentiriam se isso acontecesse com vocês?

O que vocês poderiam fazer para que isso não acontecesse mais? Para isso, é preciso construir espaços que abarquem a formação ética dos nossos alunos. Pouco adianta puni-los, julgá-los, denunciá-los à polícia. O que precisamos é formar cidadãos que aspirem a uma personalidade que tenha valores morais.




Dom Anuar Battisti
Arcebispo de Maringá - PR

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